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Infidelidade

  • Foto do escritor: Sonia Rodrigues
    Sonia Rodrigues
  • 24 de abr. de 2017
  • 2 min de leitura

Todas as vezes em que fui fiel a pessoas que não fizeram por merecer minha fidelidade me arrependi. Todas. Algumas pessoas merecem ser traídas. Ou deixadas de lado.

Escrevi um livro, “Fronteiras” no qual uma filha vai para a cadeia de menores por fidelidade à mãe. Prefere ser vítima a ser dedo duro.

Trair quem a gente ama é difícil, mas a fidelidade/lealdade aos que amamos não pode estar acima da nossa sobrevivência. E cadeia, apesar de não ter sido feita para cachorro, é uma das piores experiências inventadas por seres humanos contra seres humanos.

Nunca entendi o que as pessoas, no Brasil, têm contra a traição. “Ah, traiu para não ser preso”. Lógico, quem quer ser preso?

Decorrente do preconceito contra trair, existe outro preconceito. Formadores de opinião, no Brasil, são contra a lei que “alivia a barra” de quem assume erro cometido com cúmplices. Dizer a verdade, negociar punição, entregar quem coloca em fria, quem pratica mau feitos junto é feio para essas pessoas. Para mim, é instinto de autopreservação.

As cadeias brasileiras estão superlotadas de transgressores que não assumem sua parte nos erros dos quais são acusadas e não entregam seus cúmplices. Por isso, a maioria acha têm atenuantes. Acham feio ser dedo duro. Por que os formadores de opinião não são solidários a essa multidão carcerária que segue a omertá mafiosa?

Li um artigo de uma jornalista que “babava na gravata” contra os Odebrecht. Não entendi. Ela acharia melhor que eles fossem fieis aos cúmplices e mofassem na cadeia? Eles corromperam quem queria ser corrompido e, em vez de informar à sociedade brasileira o tamanho do erro, deveriam abrir mão da vida, da família, da herança?

Li outro artigo de Leonardo Boff que, outro dia, estava lançando Lula candidato a presidente. Hoje, critica quem "traí" Lula, mas publica quem atribui a Lula a desilusão com a esquerda por cumplicidade com os empresários. Durante três anos, o sujeito foi vítima das mentiras de seu líder? Nem uma palavra sobre o conteúdo das delações?

Entendo que num caso de amor, quando está em jogo a paixão, a amizade, o sangue em comum, se hesite em trair. Entendo que as mesmas emoções arrastem a gente para a cegueira de não reconhecer evidências. Arrastem para a fidelidade cega a quem vai nos levar para o precipício.

Políticos que se dizem bem intencionados não deveriam, no entanto, usar argumentos de paixão para a própria cegueira. Muito menos para abandonar o barco da pessoa amada, digo, do líder político amado de uma semana para outra. Ou Leonardo Boff não abandonou?

Deixei de ser militante porque não conseguia mais suportar a hipocrisia da política. Felizmente, pulei do barco partidário a tempo. Antes dessa época triste em que ser de partido de esquerda é fazer parte do fã clube de falsos heróis.

 
 
 

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