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O primeiro gole

  • Foto do escritor: Sonia Rodrigues
    Sonia Rodrigues
  • 5 de out. de 2018
  • 1 min de leitura

Uma pessoa muito inteligente e muito intensa que me disse o seguinte a respeito do seu DNA inconformado e raivoso: resisto dez vezes por dia a tomar o primeiro gole.

Perfeito. Eu também.

Reagir à raiva é o primeiro gole.

Insistir no que não tem jeito é meu primeiro gole.

O pior, no meu caso, é que não fico raivosa. Fico triste.

Fico triste com os que não gostam ou evitam pessoas vulneráveis, especialmente mulheres vulneráveis.

Fico triste com os que dizem ser solidários às causas que importam e na esquina esquecem.

Fico triste com aqueles que ficam esperam ser procurados, convidados pelos chiques a valer, e ignoram os que não são das suas turmas.

Os narcisistas empedernidos.

Os empatia zero.

Os que agem como se fossem a reencarnação, na classe média carioca, de algum pequeno fidalgo, sub celebridade da Corte do Rei Sol.

Quem leu Angélica, Marquesa dos Anjos vai entender.

Nesses tempos duríssimos que estamos vivendo, o primeiro gole para mim representa um triplo esforço.

O primeiro: Me conformar com o que não tem jeito.

O segundo: Relevar promessas não cumpridas por quem não cumpre promessas.

O terceiro: Evitar os narcisistas e os que não têm jeito.

Nos últimos tempos, tenho desistido de muitas situações, de muitas pessoas.

Mas sou viciada no inconformismo.

Às vezes, consigo passar um período, nunca muito grande, longe de situações com as quais não consigo me conformar. Longe das pessoas que vão desencadear minha necessidade de baixar a guarda.

Às vezes, tenho recaídas e tomo o primeiro gole de ser eu mesma.

A ressaca é terrível.

 
 
 

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