A Paixão Presente
Fiz duas ótimas leituras de ontem para hoje. O livro de Annie Ernaux e a coluna de Miriam Goldenberg, na FSP, 19/04, sobre a amante do pai.
Noves fora a violência doméstica citada nas memórias da colunista, os dois textos são sobre mulheres que se envolvem profundamente com homens casados. A escritora francesa detalha o quanto é avassalador esperar por um homem que tem outra com mais “direitos” sobre ele. Miriam Goldenberg é a primeira filha do lado “oficial” que eu vejo ter empatia, curiosidade sobre a “outra”. Clap, clap, clap. Sem abandonar à própria sorte o pai adúltero. Clap, clap, clap de novo.
Todos os filhos oficiais que eu conheço – repito todos – ficam contra a Outra , o que eu considero de um machismo extraordinário. Por isso, meu aplauso a Miriam Goldenberg. Quem tem compromisso com a esposa é o homem casado, não a mulher livre.
Por que uma mulher solteira, divorciada, casada deve ser pendurada pelos polegares pela opinião pública (ou familiar) quando se envolve com um homem casado?
A mulher que assume esse tipo de paixão – quando todas as desvantagens das circunstâncias recaem sobre ela – é uma mulher que exerce o direito ao desejo.
Aí existem duas coisas que não entendo: uma, a fissura que as pessoas têm em condenar o adultério dos outros, outra, a repulsa que têm pela paixão. Isso é medo de quê mesmo?
De certa forma, as pessoas consideram que paixão e loucura se equiparam. Pode ser que tenham razão, mas não sabem o que estão perdendo.
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