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As mentiras que as mulheres gostam

Descobri a diferença entre o folhetim francês e o folhetim norte-americano.

No folhetim que as autoras americanas escrevem – e a Shonda Rhimes faz a produção executiva – os homens se rendem aos encantos das mulheres decididas, inteligentes, fortes. Além de tudo isso, elas são impertinentes, têm opinião própria e teimam em suas posições. E, mesmo assim, eles morrem de tesão por elas. E casam com elas. E se submetem a elas. Numa boa.

Eu ia escrever “as mentiras que mulheres fortes gostam”. Mas me lembrei que várias mulheres fortes - eu inclusive - ficam furiosas com homens manipuladores e com homens que parecem cordatos, mas não são. Aliás, eu nem acredito em homem cordato. Minha experiência diz que muitas vezes os homens agem como se estivessem pensando “o médico disse para não contrariar” ou “si, si, toca, toca” que seria a tradução do meu avô espanhol para deixar a mulher pensar que está ganhando. Sem estar.

O folhetim francês, ao contrário, mostra mulheres capazes de manipular, seduzir, matar sempre que precisam. E ainda querendo um amor sincero, passional, independente de que isso implique numa eterna queda de braço, entre dois fortes.

Mesmo nos folhetins franceses escritos por homens – como Alexandre Dumas ou Michel Zevaco – as mulheres fortes são cheias de defeitos que os homens consideram irritantes, para não dizer insuportáveis. De Milady a Marguerite de Valois, de Catarine de Medicis a Fausta, todas deixam os homens de estressados e enlouquecidos. Na Marquesa dos Anjos, então, nem se fala.

O melhor do folhetim americano é o sexo. Bem descrito, detalhado, eventualmente a mulher por cima. Ou pendurada numa escada. Ou transando na chuva. Com roupas lindas.

Meu problema é sentir como Caio Fernando Abreu: “gosto sempre do mistério, mas prefiro a verdade”.

Eu diria que a mentira tem seu charme, mas a sinceridade me atrai mais.



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